segunda-feira, 16 de setembro de 2013

"Navegar é preciso"

Esta expressão parece dever-se , segundo Plutarco, na obra Vidas Paralelas, ao general romano Pompeu (106 – 48 a.C.) que, encorajando os marinheiros receosos de embarcar em tempo de tempestade, exclamava: “Navigare necesse, vivere non est necesse!”
 
No século XIV, o poeta italiano Petrarca, usando a expressão, afirmava que A navegação é uma ciência exata [precisa]; a vida, não”.
 
No séc. XX, o nosso Pessoa retoma a frase, delimitando o seu sentido de vida ao ato criador:
 “Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é preciso; viver não é preciso. Serve para mim o espírito desta frase, transformada a forma para se casar com o que eu sou. Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim toma o misticismo da nossa Raça.” (In Obra Essencial de Fernando Pessoa, Prosa Íntima e de Autoconhecimento. Edição Richard Zenith, Assírio & Alvim, Abril 2007)
 
Caetano Veloso regressa à frase e liga-a aos nossos “argonautas”, título aliás da composição. Num diálogo intertextual, Caetano retoma o misticismo da “Raça” referido por Pessoa, recuperando, contudo, os heróis portugueses numa visão desconstrutivista da mitificação destes, humanizando-os: a navegação é uma ciência exata – “Navegar é preciso” – , a vida não o é, ela é imprecisa  e feita de aprendizagens – “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
 
Aqui fica a canção, com um excerto da “Carta do Achamento do Brasil” de Pêro Vaz de Caminha:
 
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário