sexta-feira, 15 de novembro de 2013

República das Letras | Agradecimento

Chegou ao fim a primeira parte da República das Letras, que decorreu entre 11 a e 15 de novembro. Agora, só voltaremos a reencontrar o Professor Miguel Monjardino e os heróis da Ilíada e da Odisseia no segundo período.
 
A semana foi recheada de emoções fortes: no 10ºano, os alunos renderam-se à beleza e astúcia de Helena e ficaram divididos entre a inteligência de Ulisses e o caráter forte de Aquiles; no 11ºano, assistiram ao crescimento de Telémaco, que teve de tem de enfrentar os pretendentes de Penélope e honrar as qualidades que recebeu de seu pai, Ulisses;  no 12ºano, vibraram, por vezes horrorizados, com a determinação de Medeia.
 
Ao longo destes dias, o dicionário e o "guardião do conhecimento" de cada turma trabalharam ininterruptamente, numa "odisseia" paralela, dedicada à descoberta do significado de palavras "misteriosas" e desconhecidas. O glossário atualizado pelos alunos em cada sessão é longo... Além do significado, descobrimos, com a ajuda do Professor Miguel Monjardino, a origem de algumas palavras. Por exemplo, a palavra "mentor" deve o seu sentido a uma das personagens da Odisseia, Mentor, o amigo de Ulisses e que orientava o seu filho, Telémaco. O nome significa, por isso, “orientador, o que guia”.
 
 Foram dias de descoberta e de viagem, numa sala plena de luz, à volta de uma mesa, num círculo de leitura e de cumplicidade, em que as vozes, os dilemas e as decisões dos heróis clássicos nos (des)inquietaram mais uma vez, projetando-se e imiscuindo-se no presente, no mundo de hoje. A milénios de distância, a tapeçaria de Penélope volta a tecer-se. Ontem, como hoje, os mesmos problemas, a mesma fibra heroica, a mesma ânsia de além, a mesma demanda - o sentido para e da condição humana.
 
 Ao longo dos próximos dias, publicaremos algumas imagens e testemunhos sobre os melhores momentos de cada um dos seminários.
 
Deixamos um agradecimento especial ao Professor Monjardino por esta semana inesquecível. Até Ítaca, Professor!
 
Ítaca
 
Quando partires rumo a Ítaca,
Faz votos de que seja longa a viagem,
Cheia de aventuras, cheia de experiências.
E quanto aos Lestrigões, aos Ciclopes
E ao irado Poseidon, não os temas,
Esses seres não encontrarás nunca no caminho,
Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre
Emoção tocar tua mente e corpo.
E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes,
Nem o fero Poseidon hás­ de ver,
Se dentro da tua alma não os transportares,
Se não tos puser a alma à tua frente.
 
Faz votos de que seja longa a viagem.
Que as manhãs de verão que sejam muitas,
Que o prazer te invada e a alegria
Ao entrares em portos nunca vistos;
Hás­ de parar nas feitorias dos fenícios
Para adquirir os mais belos artigos:
Ébano, corais, âmbar, madrepérolas,
E sensuais perfumes de todas as sortes,
E quanto houver de aromas deleitosos;
Vai a muitas cidades do Egito
Aprender e aprender com os doutores.
 
Deves ter sempre Ítaca na tua mente.
Hás­ de lá chegar, é o teu destino.
Mas não apresses em nada a tua viagem.
Melhor será que muitos anos dure
E que já velho regresses à tua ilha
Rico do que ganhaste no caminho
Não esperando de Ítaca riquezas.
 
Ítaca deu-te essa bela viagem.
Sem ela não te terias posto a caminho.
Não tem, porém, mais nada para te dar.
 
E se a fores encontrar pobre, Ítaca não te enganou.
Tão sábio te tornaste, tão experiente,
Que percebes enfim que o significam as "Ítacas".

konstantinos kavafis
 
 
 

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