segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Bibliotecando

Eis as propostas da equipa da Biblioteca para este mês de janeiro. 


2º ciclo / Matilda, de Roald Dahl

Excerto
“ Por acaso, algum de vocês sabe a tabuada do dois?
Matilda pôs a mão no ar. Foi a única.
(…) - Muito bem- disse ela.- Levanta-te, por favor, e começa a dizê-la até onde souberes.
Matilda levantou-se e começou a recitar a tabuada dos dois. Quando chegou ao dois vezes doze são vinte e quatro”, não parou. Continuou com dois vezes treze são vinte e seis, dois vezes catorze são vinte e oito, dois vezes quinze são trinta, dois vezes dezasseis são…”
-Para! - pediu a menina Honey. Tinha estado levemente fascinada a ouvir aquela cantilena tranquila. – Sabes até onde? – Perguntou ela.
- Até onde?- repetiu Matilda. – Bom, na verdade não sei, menina Honey. Até bastante mais, acho eu.”
(…) – Por exemplo - disse a menina Honey-, se eu te pedisse que multiplicasses catorze por noventa… não, isso é demasiado difícil…

- São duzentos e sessenta e seis - Disse Matilda serenamente.”

3º ciclo / O Sonhador, de Ian McEwan

Excerto
“ APRESENTO-VOS PETER
Quando Peter Fortune tinha dez anos, os adultos diziam muitas vezes que era uma criança «difícil». Peter nunca percebeu o que isso significava. Não se sentia nada difícil. Não atirava garrafas de leite aos muros do jardim, não despejava ketchup por cima da cabeça a fingir que era sangue, nem sequer dava com a espada nos tornozelos da avó, embora às vezes essas ideias lhe passassem pela cabeça. Tirando os legumes (excepto as batatas), o peixe, os ovos e o queijo, comia tudo. Não era mais barulhento, mais porco ou mais estúpido do que as pessoas que conhecia. Tinha um nome fácil de dizer e de soletrar. O seu rosto, pálido e sardento, era facílimo de fixar. Ia todos os dias para a escola como as outras crianças e nunca refilava por causa disso. Limitava-se a ser tão monstruoso para a irmã como ela era para ele. A polícia nunca veio bater-lhe à porta para o prender. Nunca apareceram médicos de bata branca a quererem interná-lo num manicómio. Segundo lhe parecia, era uma pessoa até bastante fácil. Que haveria nele de difícil? “

Secundário / Os pássaros e outros contos macabros, de Daphne du Maurier

Excerto

“ «Não olhes agora», disse John à sua mulher, «mas a duas mesas da nossa estão duas velhotas a tentar hipnotizar-me.»
Laura, apanhando logo a deixa, fez uma imitação primorosa de um bocejo e depois deitou a cabeça para trás como se esquadrinhasse os céus em busca de um avião inexistente.
«Mesmo atrás de ti», acrescentou ele. «Por isso é que não te podes virar de repente – era óbvio de mais.»
Laura recorreu ao truque mais velho do mundo e deixou cair o guardanapo, depois curvou-se para o apanhar a seus pés, deitando uma olhadela furtiva por cima do ombro esquerdo ao tornar a endireitar-se. Sorveu o ar das bochechas, primeiro indício revelador de uma histeria controlada, e baixou a cabeça.
«Não são velhotas nenhumas», disse. «São dois gémeos travestis.» ”

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