2º ciclo / Matilda, de Roald Dahl
Excerto
Matilda pôs a mão no ar. Foi a única.
(…) - Muito bem- disse ela.-
Levanta-te, por favor, e começa a dizê-la até onde souberes.
Matilda levantou-se e começou a
recitar a tabuada dos dois. Quando chegou ao dois vezes doze são vinte e
quatro”, não parou. Continuou com dois vezes treze são vinte e seis, dois vezes
catorze são vinte e oito, dois vezes quinze são trinta, dois vezes dezasseis
são…”
-Para! - pediu a menina Honey. Tinha
estado levemente fascinada a ouvir aquela cantilena tranquila. – Sabes até
onde? – Perguntou ela.
- Até onde?- repetiu Matilda. – Bom,
na verdade não sei, menina Honey. Até bastante mais, acho eu.”
(…) – Por exemplo - disse a menina
Honey-, se eu te pedisse que multiplicasses catorze por noventa… não, isso é
demasiado difícil…
- São duzentos e sessenta e seis -
Disse Matilda serenamente.”
3º ciclo / O Sonhador, de Ian McEwan
Excerto
Quando Peter Fortune tinha dez anos,
os adultos diziam muitas vezes que era uma criança «difícil». Peter nunca
percebeu o que isso significava. Não se sentia nada difícil. Não atirava
garrafas de leite aos muros do jardim, não despejava ketchup por cima da cabeça a fingir que era sangue, nem sequer dava
com a espada nos tornozelos da avó, embora às vezes essas ideias lhe passassem
pela cabeça. Tirando os legumes (excepto as batatas), o peixe, os ovos e o
queijo, comia tudo. Não era mais barulhento, mais porco ou mais estúpido do que
as pessoas que conhecia. Tinha um nome fácil de dizer e de soletrar. O seu
rosto, pálido e sardento, era facílimo de fixar. Ia todos os dias para a escola
como as outras crianças e nunca refilava por causa disso. Limitava-se a ser tão
monstruoso para a irmã como ela era para ele. A polícia nunca veio bater-lhe à
porta para o prender. Nunca apareceram médicos de bata branca a quererem
interná-lo num manicómio. Segundo lhe parecia, era uma pessoa até bastante
fácil. Que haveria nele de difícil? “
Secundário / Os pássaros e outros contos macabros, de Daphne du Maurier
Excerto
“ «Não olhes agora», disse John à sua
mulher, «mas a duas mesas da nossa estão duas velhotas a tentar hipnotizar-me.»
Laura, apanhando logo a deixa, fez
uma imitação primorosa de um bocejo e depois deitou a cabeça para trás como se
esquadrinhasse os céus em busca de um avião inexistente.
«Mesmo atrás de ti», acrescentou ele.
«Por isso é que não te podes virar de repente – era óbvio de mais.»
Laura recorreu ao truque mais velho
do mundo e deixou cair o guardanapo, depois curvou-se para o apanhar a seus
pés, deitando uma olhadela furtiva por cima do ombro esquerdo ao tornar a
endireitar-se. Sorveu o ar das bochechas, primeiro indício revelador de uma
histeria controlada, e baixou a cabeça.
«Não são velhotas nenhumas», disse.
«São dois gémeos travestis.» ”
Sem comentários:
Enviar um comentário