Irmão Lobo de Carla Maia de Andrade
«O pai tinha dito que íamos fazer uma expedição. (…)
"Vamos passar por sítios onde nenhum homem pisou, até
chegarmos ao nosso destino", disse ele, fazendo voz grossa de chefe índio.
Arrepiei-me, mas não tive medo, porque quando o pai vestia a pele de Alce Negro
não havia nada que não soubesse.
- O que é o destino?
- É o sítio onde pertencemos. A nossa
casa.
- Mas nós já temos uma.
- Não é essa. A nossa casa tem raízes,
como uma árvore.
- É muito longe?
- Mais ou menos.
- Como é que chegamos lá?
- Pelo instinto.
Não percebi nada.
Felizmente, tinha trazido comigo o Coelho Voador. Podíamos
sempre perguntar-lhe que direção seguir, se perdêssemos o destino. Falava com
as orelhas, bastava olhar com atenção e ele, tuca, respondia logo, mexendo a direita ou a esquerda.
Então fomos pela estrada fora, deixando para trás os prédios
do bairro onde ficava a nossa casa nova-velha, sem florestas nem pradarias à
volta. Só prédios e mais prédios, todos novos-velhos, todos iguais ao nosso.»
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