Esta
expressão parece dever-se , segundo Plutarco, na obra Vidas Paralelas, ao general romano
Pompeu (106 – 48 a.C.) que, encorajando os marinheiros receosos de embarcar em
tempo de tempestade, exclamava: “Navigare necesse, vivere non est necesse!”
No século
XIV, o poeta italiano Petrarca, usando a expressão, afirmava que “A
navegação é uma ciência exata [precisa]; a vida, não”.
No séc. XX, o
nosso Pessoa retoma a frase, delimitando o seu sentido de vida ao ato criador:
“Navegadores
antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é preciso; viver não é preciso.
Serve para mim o espírito desta frase, transformada a forma para se casar com o
que eu sou. Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar
a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para
isso tenha de ser o meu corpo e a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a
humanidade ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais
assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito
do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a
evolução da humanidade. É a forma que em mim toma o misticismo da nossa Raça.” (In Obra Essencial de Fernando Pessoa, Prosa Íntima e de Autoconhecimento. Edição Richard Zenith, Assírio &
Alvim, Abril 2007)
Caetano Veloso regressa à frase e liga-a aos nossos “argonautas”, título
aliás da composição. Num diálogo intertextual, Caetano retoma o misticismo da
“Raça” referido por Pessoa, recuperando, contudo, os heróis portugueses
numa visão desconstrutivista da mitificação destes, humanizando-os: a navegação
é uma ciência exata – “Navegar é preciso” – , a vida não o é, ela é imprecisa e feita de aprendizagens – “Navegar é preciso,
viver não é preciso”.
Aqui fica a
canção, com um excerto da “Carta do Achamento do Brasil” de Pêro Vaz de
Caminha:
Sem comentários:
Enviar um comentário