domingo, 16 de novembro de 2014

À maneira de Vieira


Pedimos aos alunos de 11.º ano que, no âmbito do estudo do "Sermão de Santo António aos Peixes", de Padre António Vieira, recriassem o primeiro parágrafo do Capítulo I (Exórdio), denunciando um problema da atualidade. Aqui ficam alguns desses textos. Nos próximos dias, publicaremos mais!






1.




Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com o povo, sois a luz da escuridão: e chama-lhe luz da escuridão porque quer que façam na escuridão o que faz a luz. O efeito da luz é iluminar o povo, incentivndo-o a ter um papel ativo na justiça e na política; mas quando a escuridão é tão avassaladora como esta, havendo tantos nela que deveriam ser luz, qual será, ou qual pode ser a causa desta incapacidade de agir? Ou é porque a luz não ilumina, ou porque a escuridão se não deixa iluminar. Ou é porque a luz não ilumina, e o povo não tem iniciativa; ou é porque a escuridão se não deixa iluminar, e os políticos não deixam o povo ter intervenção na matéria política. Ou é porque a luz não ilumina, e o povo permanece indiferente ao futuro; ou é porque a escuridão se não deixa iluminar, e os políticos não estão dispostos a aceitar que erraram. Ou é porque a luz não ilumina, e o povo não tem capacidade para defender as suas ideias; ou porque a escuridão se não deixa iluminar, e os políticos não estão recetivos à opinião do povo, servindo apenas os seus interesses e apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Augusto Luciano, 11B




2.



Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os políticos, sois a luz de Portugal: e chama-lhes luz de Portugal, porque quer que façam em Portugal o que faz a luz. O efeito da luz é dar esperança, mas quando Portugal se vê numa crise como esta nossa, havendo tantos nela que têm ofício de luz, qual será, ou qual pode ser a causa desta crise? Ou é porque a luz não dá esperança, ou porque Portugal não acredita. Ou é porque a luz não dá esperança, e os políticos não solucionam a dívida do país; ou é porque Portugal não acredita, e os portugueses se recusam também a receber a esperança. Ou é porque a luz não dá esperança, e os políticos dizem uma cousa e fazem outra; ou porque Portugal não acredita, e os portugueses querem antes criticar o que eles dizem, em vez de agir. Ou é porque a luz não dá esperança, e os políticos se ajudam a si e não a sociedade; ou porque Portugal não acredita, e os portugueses, em vez de se ajudarem, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!


Marta Azevedo, 11B


3.


Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os políticos, sois os representantes de Portugal; e chama-lhes representantes de Portugal, porque quer que façam em Portugal o que fazem os representantes. O efeito dos representantes é impedir a desigualdade; mas quando Portugal se vê tão desigual como está a nossa pátria, havendo tantos nela que têm ofício de representantes, qual será, ou qual pode ser a causa desta desigualdade? Ou é porque os representantes não representam, ou porque Portugal se não deixa representar. Ou é porque os representantes não representam, e os políticos não cumprem a sua função; ou porque Portugal se não deixa representar, e os cidadãos, sendo a função cumprida, não a respeitam. Ou é porque os representantes não representam, e os políticos recebem muito e fazem pouco; ou porque Portugal se não deixa representar, e os cidadãos querem antes fazer muitas manifestações, que continuar a trabalhar e a lutar pelos deus direitos de uma forma cívica. Ou é porque os representantes não representam, e os políticos não melhoram o sistema de saúde; ou porque Portugal se não deixa representar, e os cidadãos, em vez de lutarem pelo seu acesso à saúde, lutam por outras causas menos importantes. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Tomás Delgado, 11B


4.



Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os professores, sois o maestro da orquestra: e chama-lhes maestro da orquestra, porque quer que façam na orquestra o que faz o maestro. O propósito do maestro é impedir a inveja; mas quando os músicos se veem tão invejosos como estão os nossos, havendo tantos que têm o ofício de maestro, qual será, ou qual pode ser a causa desta inveja? Ou é porque os maestros não dirigem, ou porque os músicos não se deixam dirigir. Ou é porque os maestros não dirigem, e os professores não ensinam os valores verdadeiros; ou é porque os músicos não se deixam dirigir, e os portugueses, sendo verdadeiros os valores que lhes dão, não os querem aplicar. Ou é porque os maestros não dirigem, e os professores ensinam uma cousa e demonstram outra; ou porque os músicos não se deixam dirigir, e os portugueses querem antes exibir-se, do que felicitar os outros e não os invejar. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Vasco Ferreira, 11A2

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