domingo, 29 de março de 2015
100 Orpheu
Deixamos, como recordação destes últimos quatro dias do Congresso Internacional, a fotografia de parte do grupo com o Professor Eduardo Lourenço. "Orpheu não acabou. Orpheu continua!"
terça-feira, 24 de março de 2015
100 anos de Orpheu
Também a propósito dos 100 anos da revista Orpheu, que se assinalam hoje, deixamos um artigo publicado no jornal Expresso, no último sábado:
Furacão Orpheu.
Fernando Pessoa e a revista que abanou
Portugal
Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro foram os grandes
impulsionadores desta revista literária em dois números. Custava 30 centavos
quando um jornal diário valia um. O país ficou virado do avesso quando viu o
primeiro número de Orpheu a 24 de março de 1915. Faz esta terça-feira 100 anos.
Manuela Goucha Soares | 23 de março de 2015
Orpheu é um grupo de
homens nascidos entre o último quinquénio da década de 1880 e o primeiro da
década de 1890 que se espelha nas palavras de Fernando Pessoa: "Pertenço a
uma geração que ainda está por vir, cuja alma não conhece já, realmente, a
sinceridade e os sentimentos sociais".
Orpheu tinha a poesia e a irreverência de Fernando Pessoa,
Almada e Mário de Sá-Carneiro. Dirigida por Luís de Montalvor e pelo brasileiro
Ronaldo de Carvalho, Orpheu nasce do impulso e entusiasmo de Fernando Pessoa e
Mário de Sá Carneiro; o mecenas foi o pai deste poeta precoce e tragicamente
desaparecido, que já não estaria disposto a pagar a impressão do terceiro
número tal fora o estremeção social e o escândalo provocado pelos dois
anteriores.
Nesta revista sem
mulheres surgem, no número 2, poemas de Violante de Cysneiros; o único nome
feminino de Orpheu era afinal um heterónimo do poeta açoriano Armando
Côrtes-Rodrigues .
Orpheu, revista de poetas, pertença estética dos seus
atores, também não tinha jornalistas. Antonio Ferro foi escolhido para editor,
por Sá-Carneiro, por ser menor de idade, o que livraria os membros do grupo
fundador de terem problemas com a Justiça. Mais tarde, distinguiu-se no
jornalismo e marcou como ninguém a estratégia de propaganda de Salazar.
O restaurante Irmãos Unidos, no Rossio, foi quartel-general
da sua redação. "Os orpheistas, como a si próprios se designam",
encontram ali um poiso de "almoços grátis", porque o local é
"explorado" por um "simpático galego que é pai de Alfredo
Guisado" um dos membros do grupo Orpheu, escreve o ex-jornalista Orlando
Raimundo em "António Ferro - O Inventor do Salazarismo".
Orpheu, expressão do movimento modernista, alvor de Portugal
Futurista, é também filho da I República, coevo do anticlericalismo, da Grande
Guerra, do desencanto da República, do intenso nacionalismo patriótico que leva
Pessoa a desejar "melhorar o estado de Portugal".
Canal de todos os movimentos vanguardistas que pululavam por
essa Europa fora, como que adubados pela iconoclastia desconstrutiva do
Manifesto Futurista de Filippo Marinetti [que se inscreve no Partido Nacional
Fascista italiano em 1919], Orpheu é uma pertença estética dos seus atores.
Orpheu é um projeto luso-brasileiro. O grupo
português de Orpheu diz ser de não pertença a toda e qualquer manifestação que
não o prazer da arte pela arte, "a consequência do encontro das letras e
da pintura", afirmando-se movimento dialético de rutura e
desconstrução do passado, pois - ao mesmo tempo que rejeita a evocação
saudosista do passado, arroga-se herdeiro do mesmo para, assim, afirmar um modo
universalista de ser português, na busca de uma nova definição identitária que
passa pelo empenhamento criativo como contributo ativo e decisivo para a antidecadentista
e osmótica "única ponte entre Portugal e a Europa (...)Comprar ORPHEU é,
enfim, ajudar a salvar Portugal da vergonha de não ter tido senão a literatura
portuguesa. ORPHEU é todas as literaturas ".
Três dos seus mais importantes elementos partiram cedo e
abruptamente (Amadeo de Souza-Cardoso, Guilherme de Santa-Rita e Mário Sá
Carneiro), outro retirou-se para as ilhas, outros anunciaram o seu afastamento.
Orpheu suscita imagens/leituras que atravessam o
tempo. "Não é a mesma a figura de Orpheu no seu presente e no nosso. (...)
o verdadeiro rosto de Orpheu não pertence nem aos que o inventaram nem aos que,
fascinada ou distraidamente, experimentaram a necessidade de o complementar.
Pertence à forma mesma do presente sempre outro e sempre futuro, à sua
específica maneira de exorcizar o seu próprio enigma ou de o ignorar
ignorando-se", assim responde Eduardo Lourenço ao inquérito "O
significado histórico do "Orpheu" - 1915/1975", que assinalou os
60 anos da revista.
Orpheu é afirmação, contradição, desconstrução. Orpheu
é criação. Orpheu celebra esta terça-feira 100 anos.
Homenagem a Herberto Helder
Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
sábado, 21 de março de 2015
Dia Mundial da Poesia
Comemora-se hoje o dia da árvore e o dia da poesia. Deixamos aqui o programa do Centro Cultural de Belém, com múltiplas atividades, desta vez, dedicadas ao poeta Cesário Verde.
terça-feira, 10 de março de 2015
Conto Contigo | Vencedores
Na passada sexta-feira, 6 de março, foram anunciados os vencedores do II Concurso Literário CPA, dedicado, desta vez, ao conto.
Aqui ficam os premiados, por ciclo, que tiveram direito a sala cheia!
Muitos parabéns!
Agradecemos também o entusiasmo e a motivação dos restantes participantes!
E para o ano há mais!
Aqui ficam os premiados, por ciclo, que tiveram direito a sala cheia!
. 1.º Ciclo
Vera Cruz (4A)
. 2.º Ciclo
Joana Jorge (5C)
. 3.ºCiclo
Catarina Coelho (8A)
. Secundário
Beatriz Inácio (10A1)
Maria do Mar Vau (10A1)
Muitos parabéns!
Agradecemos também o entusiasmo e a motivação dos restantes participantes!
E para o ano há mais!
domingo, 8 de março de 2015
Dia da Mulher
A Mulher Mais Bonita do Mundo
estás
tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in A Casa, a Escuridão
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in A Casa, a Escuridão
terça-feira, 3 de março de 2015
Bibliotecando
Para o mês de Março, a Biblioteca propõe as seguintes leituras:
2º ciclo - Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl
3º ciclo - A história do senhor Sommer, de Patrick Süskind
“No tempo em que eu ainda trepava às árvores – há muitos, muitos anos, há dezenas de anos atrás, media apenas pouco mais de um metro, calçava o número vinte e oito e era tão leve que podia voar – não estou a mentir, naquele tempo eu podia de facto voar – ou, pelo menos, quase, ou, melhor dizendo: naquela altura teria realmente conseguido voar, se de facto o tivesse querido fazer e se verdadeiramente o tivesse tentado, pois… Pois lembro-me com exatidão de que uma vez não voei por um triz.”
2º ciclo - Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl
“Charlie Pipa
adora chocolate. E o Sr.Willy Wonka, o mais prodigioso inventor do mundo, vai
abrir as portas da sua maravilhosa fábrica de chocolate a cinco crianças sortudas.
É o melhor prémio do mundo! Enche-bocas eternos, bombons serpentina e um rio de
chocolate derretido esperam por elas. Se Charlie conseguir um bilhete Dourado,
estas lambarices deliciosas podem ser TODAS suas.”
3º ciclo - A história do senhor Sommer, de Patrick Süskind
“No tempo em que eu ainda trepava às árvores – há muitos, muitos anos, há dezenas de anos atrás, media apenas pouco mais de um metro, calçava o número vinte e oito e era tão leve que podia voar – não estou a mentir, naquele tempo eu podia de facto voar – ou, pelo menos, quase, ou, melhor dizendo: naquela altura teria realmente conseguido voar, se de facto o tivesse querido fazer e se verdadeiramente o tivesse tentado, pois… Pois lembro-me com exatidão de que uma vez não voei por um triz.”
Secundário - Carlota Fainberg, de Antonio Muñoz Molina
“Tudo começa, acidentalmente, no
aeroporto de Pittsburgh. Enquanto aguarda embarque para Buenos Aires, aonde vai
proferir uma palestra sobre Jorge Luís Borges, Cláudio, professor de
Literatura, vê-se forçado a corresponder ao muito falador Marcelo, um executivo
em trânsito para Miami. O fato de ambos serem espanhóis faz com que Marcelo
insista em dar a conhecer ao seu companheiro acidental (…) a aventura que aí
viveu com a mais bela das mulheres: Carlota Fainberg. Depois do seu
inexplicável desaparecimento, só voltou a vê-la quando partiu, num adeus brusco
e enigmático. Ao chegar a Buenos Aires, Cláudio visita o Town Hall e reconhece
imediatamente Carlota. Vem a saber, todavia, que Carlota Fainberg morreu há
vinte anos, portanto muito antes de Marcelo a ter podido conhecer. Será que
Marcelo inventou a história que contou a Cláudio? Ou não passa tudo de uma
alucinação que se transferiu de Marcelo para Cláudio? E, viva ou morta, quem é
afinal, Carlota Fainberg?”
segunda-feira, 2 de março de 2015
Recriação de uma lenda medieval
Os Livros de Linhagens,
de D. Pedro, Conde de Barcelos, também chamados Nobiliários, incluíam, além dos
relatos exaustivos da genealogia das famílias nobres, narrativas fantásticas, de
conteúdo mítico-lendário ou mítico-simbólico.
Estas lendas ou contos fantásticos procuravam explicar a
fundação de uma determinada família. Um dos textos mais conhecidos é “Dona
Marinha”, inspirado na tradição etnográfica multissecular do litoral
(parentesco com Afrodite, com as Sereias, Ondina).
Um bom cavaleiro, caçador e monteiro, acompanhado por três
escudeiros, achou um dia uma bela mulher que dormia junto ao mar. Quando os
ouviu quis acolher-se ao mar mas eles chegaram a tempo de a “colher” o
cavaleiro levou-a num cavalo para sua casa. Fê-la baptizar e teve dela seus
filhos entre os quais D. Joham Froiaz Marinho. Porém ela não falava apesar do
amor dos seus. Só falou quando o cavaleiro a assustou fingindo lançar à fogueira
o filho querido de ambos. Querendo gritar lançou um pedaço de carne pela boca e
a partir de então falou. E o
cavaleiro desposou-a.
Transcrevemos o texto original:
O primeiro foi ũu cavaleiro boo que
houve nome dom Froiam, e era caçador e monteiro. E andando ũu dia em seu cavalo
per riba do mar, a seu monte, achou ũa molher marinha jazer dormindo na
ribeira. E iam com ele tres escudeiros seus, e ela, quando os sentio, quise-se
acolher ao mar, e eles forom tanto empos ela, ataa que a filharom, ante que se
acolhesse ao mar. E depois que a filhou aaqueles que a tomarom fe-a poer em ũa
besta, e levou-a pera sa casa.
E ela era mui fermosa, e el fe-a
bautizar, que lhe nom caia tanto nome nem uu como Marinha, porque saira do mar;
e assi lhe pôs nome, e chamarom-lhe dona Marinha. E houve dela seus filhos, dos quaes ũu que
houve nome Joham Froiaz Marinho.
E esta dona Marinha nom falava
nemigalha. Dom Froiam amava-a muito e nunca lhe tantas cousas pode fazer que a
podesse fazer falar. E ũu dia mandou fazer mui gram fogueira em seu paaço, e
ela viinha de fora, e trazia aquele seu filho consigo, que amava tanto como seu
coraçom. E dom Froiam foi filhar aquele filho seu e dela, e fez que o queria
enviar ao fogo. E ela, com raiva do filho, esforçou de braadar, e com o braado
deitou pela boca ũa peça de carne, e dali adiante falou. E dom Froiam recebeo-a
por molher e casou com ela.
Mattoso, José; Livro de Linhagens do Conde Dom Pedro, Lisboa, Academia das
Ciências, 1980 , p.73 A1
*
Lenda do nome Salgueiro
O primeiro
foi um formoso marinheiro que regressava a casa da sua longa viagem.
Numa noite
fria, o marinheiro, que não conseguia dormir no seu barco, levantou-se da sua
cama, ao ouvir um cântico maravilhoso vindo do além. Procurou a voz,
dirigindo-se ao mar. No manto de nevoeiro, viu uma figura rochosa que emitia a
voz encantadora e, ao aproximar a embarcação do rochedo, encontrou uma linda
donzela de cabelos azuis e pele clara, sentada. Perguntou-lhe o seu nome e ela
disse que vinha do mar salgado e logo se apaixonaram. Sem hesitar, levou-a para o seu barco, onde prometeu cuidar dela.
Dias depois
de embarcarem, o marinheiro pediu-a em casamento. Ela aceitou, com uma condição:
nunca, de maneira alguma, o marinheiro poderia permitir que ela tocasse na
água.
Os anos
passaram e o pacto manteve-se. O marinheiro e a donzela tiveram um filho de
olhos turquesa e viviam apaixonadamente na casa junto ao mar.
Mas, uma
noite, o marinheiro acordou com uma luz forte vinda do quarto do filho. Olhou
para o lado e a mulher não estava deitada. Levantou-se rapidamente e começou a chamar
por ela. Encontrou-a agarrada ao seu amado filho, cercada de chamas. Para acudir, o marinheiro pegou nem barris de água e lançou-os ao fogo. No entanto,
quando as chamas se foram apagando, a donzela, encharcada, gritou com todas as
suas forças e foi-se desfazendo em pedras de sal, enquanto se encaminhava para
o mar, onde permaneceu.
Nunca mais
se ouviu falar dessa donzela, mas a verdade é que continuam a existir marinheiros
com vestígios de sal nas suas casas…
Inês
Martins, 10C
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