Deixamos as sugestões de leitura para este mês, enviadas
pela equipa da Biblioteca.
2.º ciclo
| Pobby e Dingan, de Ben
Rice
Excerto:
“Kellyane abriu a porta do carro e enfiou-se no meu quarto.
Trazia o rosto esbaforido e pálido, todo franzido. Mal entrou, disse: «Ashmol!
O Pobby e a Dingan estão talvez-mortos.» Foi assim que ela disse.
- Ainda bem – disse eu. – Talvez agora comeces a crescer e
deixes de ser assim chalada.
As lágrimas começaram a correr-lhe pelas faces. Mas isso não
me fazia ter nenhuma pena dela, e vocês também não teriam se tivessem crescido
com Pobby e Dingan.
O Pobby e a Dingan não estão mortos – disse, disfarçando a
fúria com uma golada da lata – Nem nunca existiram. O que nunca existiu não
pode morrer. Topas?”
3.º ciclo
|E dizer-te uma estupidez qualquer,
por exemplo, amo-te, de Martín Casariego Córdoba
Excerto:
“Tenho a certeza que o amor é uma estupidez. Torna as pessoas
meio estúpidas e muda-lhes a maneira de ser e se calhar torna-as mais felizes,
está bem, mas isso não muda nada e é claro que não torna inteligentes os que já
são estúpidos.
Quando vou na rua e vejo alguém com um sorriso parvo
estampado na cara, penso: este fulano deve estar completamente apanhado da
pinha, mas às vezes, quando estou em maré de indulgência, acrescento para mim:
ou completamente apaixonado. Concordo que as declarações de guerra ainda são
piores do que as declarações de amor, mas isso não impede que as de amor sejam
uma estupidez. (…) Quem tiver adivinhado que estou apaixonado e se considere
muito esperto e inteligente, elementar meu caro Watson por isso, com certeza
que é um convencido, e se pensa que sou estúpido, ainda por cima é imbecil,
porque pode acontecer a qualquer um apaixonar-se e ninguém está a salvo. Eu,
para não ir mais longe, apaixonei-me pela Sara sem querer, comecei a gostar
dela sem querer.”
Secundário
| Sorrisos de Bombaim, de Jaume
Sanllorente
“Passei mal a noite. O
meu único desejo era sair dali, fosse como fosse. Não me agradava nada aquele
país. A apreensão que tinha sentido durante o voo estava a confirmar-se: que ia
eu fazer agora, um mês inteiro naquela terra? Como desejava que os dias passassem
a correr!
Li artigos que se escreveram a meu respeito, segundo os quais
me apaixonei pela Índia no primeiro instante, que foi amor à primeira vista.
Não é verdade, de forma nenhuma.
Aquele país, no primeiro encontro, desagradou-me
profundamente. Como poderia fascinar-me um lugar com tanta miséria?
Não consegui dormir nem uma fracção de segundo. Pensava
especialmente nos meninos pobres e nos mendigos que tinha visto horas antes.
Perguntava a mim mesmo como era possível que aquele fosse o mesmo mundo em que
eu tinha vivido até então. Como podiam existir na nossa época coisas assim? Era
como estar de repente na Idade Média!”
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