domingo, 4 de maio de 2014

Bibliotecando

Deixamos as sugestões de leitura para este mês, enviadas pela equipa da Biblioteca.

Fica a homenagem especial a Vasco Graça Moura e a Gabriel García Márquez nos livros escolhidos.
  


2º ciclo
A minha Tia é uma baleia,de Anne Provoost

 










Excerto:
«Segurei na fotografia com dois dedos e observei-a. (…) Tinha óculos, e o cabelo era muito fino, como se já começasse a ficar careca. Não sorria, nem tinha arranjado a camisa. Fiquei com a impressão de que não reparara no fotógrafo nem na sua máquina. Bem vistas as coisas, até parecia que não sabia bem o que era um fotógrafo. Os seus olhos não estavam na fotografia, porque a luz do flash reflectia-se nas lentes dos óculos. Na fotografia estava a cara da Tara, mas os seus pensamentos estavam longe dali, via-se logo. Na altura, eu tinha nove anos e pensava que a Tara não tinha pensamentos.»


3º ciclo
Os Lusíadas para gente nova, de Vasco Graça Moura

 










Excerto:

Sabemos muito pouco de Camões
Mal sabemos quem foram os seus pais,
Quanto ao seu nascimento há discussões,
Dos seus estudos não se sabe mais.
Passou dezassete anos aos baldões
Na Índia e em paragens orientais.
Fazia belos versos muitas vezes.
N’ Os Lusíadas canta os Portugueses.

Quando voltou a Portugal, saiu
O seu livro. Camões era tão pobre
Que não se sabe como o conseguiu.
Talvez tivesse a ajuda de algum nobre
E ajuda com certeza ele pediu.
Enfim, o livro sai e se descobre
Que aquele altivo português de gema
Pusera a nossa História num poema.


A rapariga que roubava livros, de Markus Zusak

 










Excerto:
«ALGUMA INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA
Primeiro livro roubado: 13 de janeiro de 1939
Segundo livro roubado: 20 de abril de 1940
Intervalo entre os citados livros roubados: 463 dias

(…) As pessoas podem dizer-lhes que a Alemanha nazi foi edificada no antissemitismo, um líder um tanto ou quanto excessivamente zeloso, e uma nação de fanáticos empanturrados de ódio, mas tudo isso teria dado em nada se os alemães não adorassem uma atividade especial.
Queimar.
Os alemães adoravam queimar coisas. Lojas, sinagogas, Reichtags, casas, artigos pessoais, gente assassinada e, é claro, livros. Eles apreciavam realmente uma boa queima de livros – o que proporcionava às pessoas parciais em relação a estes a oportunidade de deitar a mão a certas publicações que não obteriam de outra maneira. Uma pessoa que possuía essa inclinação, como sabemos, era uma rapariga franzina chamada Liesel Meminger. Ela pode ter esperado 463 dias, mas valeu a pena. No fim de uma tarde recheada de muita excitação, muita maldade bela, um tornozelo ensopado em sangue, e uma bofetada de uma mão em que ela confiava, Liesel Meminger obteve a sua segunda história de sucesso. O Encolher de Ombros. Era um livro azul com letras vermelhas gravadas na capa, e havia uma pequena imagem de um cuco, igualmente vermelho sob o título. Olhando para trás, Liesel não sentia vergonha por o ter roubado. Pelo contrário, o que mais se assemelhava a essa pequena poça de sentir algo no estômago, era orgulho».


Secundário
Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez












Excerto:
«Desde o momento em que o viu, Meme deixou de se enganar a si mesma e compreendeu que o que realmente se passava era que não podia suportar o desejo de estar a sós com Mauricio Babilonia e indignou-a a certeza de que ele o tinha compreendido ao vê-la chegar.
- Vim ver os novos modelos [de carros] – disse Meme.
- É um bom pretexto – disse ele.

Meme deu-se conta de que se estava a queimar no lume da sua altivez e procurou desesperadamente uma maneira de o humilhar. Mas ele não lhe deu tempo. “Não se assuste”, disse em voz baixa. “Não é a primeira vez que uma mulher fica louca por um homem”. Sentiu-se tão desamparada que saiu da oficina sem ver os modelos novos e passou a noite a debater-se entre extremos e a chorar de indignação».

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