Deixamos as sugestões de
leitura para este mês, enviadas pela equipa da Biblioteca.
Fica a homenagem especial a
Vasco Graça Moura e a Gabriel García Márquez nos livros escolhidos.
2º ciclo
A minha Tia é uma baleia,de
Anne Provoost
Excerto:
«Segurei na fotografia com dois
dedos e observei-a. (…) Tinha óculos, e o cabelo era muito fino, como se já
começasse a ficar careca. Não sorria, nem tinha arranjado a camisa. Fiquei com
a impressão de que não reparara no fotógrafo nem na sua máquina. Bem vistas as
coisas, até parecia que não sabia bem o que era um fotógrafo. Os seus olhos não
estavam na fotografia, porque a luz do flash reflectia-se nas lentes dos
óculos. Na fotografia estava a cara da Tara, mas os seus pensamentos estavam
longe dali, via-se logo. Na altura, eu tinha nove anos e pensava que a Tara não
tinha pensamentos.»
3º ciclo
Os Lusíadas para gente nova, de
Vasco Graça Moura
Excerto:
Sabemos muito pouco de Camões
Mal sabemos quem foram os seus
pais,
Quanto ao seu nascimento há
discussões,
Dos seus estudos não se sabe
mais.
Passou dezassete anos aos
baldões
Na Índia e em paragens
orientais.
Fazia belos versos muitas
vezes.
N’ Os Lusíadas canta os
Portugueses.
Quando voltou a Portugal, saiu
O seu livro. Camões era tão
pobre
Que não se sabe como o
conseguiu.
Talvez tivesse a ajuda de algum
nobre
E ajuda com certeza ele pediu.
Enfim, o livro sai e se
descobre
Que aquele altivo português de
gema
Pusera a nossa História num
poema.
A rapariga que roubava livros,
de Markus Zusak
Excerto:
«ALGUMA INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA
Primeiro livro roubado: 13 de
janeiro de 1939
Segundo livro roubado: 20 de
abril de 1940
Intervalo entre os citados
livros roubados: 463 dias
(…) As pessoas podem dizer-lhes
que a Alemanha nazi foi edificada no antissemitismo, um líder um tanto ou
quanto excessivamente zeloso, e uma nação de fanáticos empanturrados de ódio,
mas tudo isso teria dado em nada se os alemães não adorassem uma atividade
especial.
Queimar.
Os alemães adoravam queimar
coisas. Lojas, sinagogas, Reichtags, casas, artigos pessoais, gente assassinada
e, é claro, livros. Eles apreciavam realmente uma boa queima de livros – o que
proporcionava às pessoas parciais em relação a estes a oportunidade de deitar a
mão a certas publicações que não obteriam de outra maneira. Uma pessoa que
possuía essa inclinação, como sabemos, era uma rapariga franzina chamada Liesel
Meminger. Ela pode ter esperado 463 dias, mas valeu a pena. No fim de uma tarde
recheada de muita excitação, muita maldade bela, um tornozelo ensopado em
sangue, e uma bofetada de uma mão em que ela confiava, Liesel Meminger obteve a
sua segunda história de sucesso. O Encolher de Ombros. Era um livro azul com
letras vermelhas gravadas na capa, e havia uma pequena imagem de um cuco,
igualmente vermelho sob o título. Olhando para trás, Liesel não sentia vergonha
por o ter roubado. Pelo contrário, o que mais se assemelhava a essa pequena
poça de sentir algo no estômago, era orgulho».
Secundário
Cem Anos de Solidão, de Gabriel
García Márquez
Excerto:
«Desde o momento em que o viu,
Meme deixou de se enganar a si mesma e compreendeu que o que realmente se
passava era que não podia suportar o desejo de estar a sós com Mauricio
Babilonia e indignou-a a certeza de que ele o tinha compreendido ao vê-la chegar.
- Vim ver os novos modelos [de
carros] – disse Meme.
- É um bom pretexto – disse
ele.
Meme deu-se conta de que se
estava a queimar no lume da sua altivez e procurou desesperadamente uma maneira
de o humilhar. Mas ele não lhe deu tempo. “Não se assuste”, disse em voz baixa.
“Não é a primeira vez que uma mulher fica louca por um homem”. Sentiu-se tão
desamparada que saiu da oficina sem ver os modelos novos e passou a noite a
debater-se entre extremos e a chorar de indignação».
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