2.º
Ciclo:
O peixe
azul, de Margarida Fonseca Santos
Excerto:
“Bom, chamei a Joana. Refilou imenso mas veio. Eu disse-lhe
que era uma experiência com desenhos e que queria que ela fosse a primeira a
ver. Ela não resistiu. Realmente, a Joana tem essa parte boa – gosta imenso dos
meus desenhos. (…)
A Joana olhou, olhou. Mudou o desenho de orientação levando o
peixe de roldão, mas não dizia nada. Até pôs a língua de fora para ver melhor.
Eu tinha-lhe dito que era um desenho abstrato com um peixe escondido.
- Tu estás a gozar comigo, Daniel.
- Porquê?
- Não vejo nenhum peixe desenhado.
- A sério?
- A sério…?! Tu estás é a brincar comigo, é o que é! Parvo!
(…) Saiu e bateu com a porta. Eu acho que é da idade,
estas cenas de bater com as portas e achar que é a maior. Tem dezasseis anos,
coitada!”
3.ºCiclo
O meu Pé
de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos
Excerto:
«Durante dois dias, apesar da minha saudade, não fui ver o
Português. Nem deixavam que eu fosse à Escola. Ninguém queria testemunho de
tanta brutalidade. (…) Passava os dias sentado com o meu irmãozinho junto de
Minguinho, sem vontade de conversar. Com medo de tudo. Papai tinha me jurado
que me moeria de pancada se eu repetisse outra vez o que dissera à Jandira. De
modo que eu respirava até com medo. Melhor era me refugiar na sombra do meu pé
de Laranja Lima.
Entretanto minha saudade era muito grande. O Portuga deveria
estranhar a minha ausência e se ele soubesse realmente onde eu morava, era até
capaz de me vir procurar. Fazia falta ao meu ouvido, à ternura do meu ouvido
aquele jeito de falar meio carregado e cheio de “tu”. D. Cecília Paim me
dissera que a gente para tratar os outros de tu, precisava saber muita
gramática.»
Secundário:
«Aqui é o Paraíso!»
Uma infância na Coreia do Norte, de Hyok Kang e Philippe
Grangereau
Excerto:
«Para explicar as razões da fome, os quadros do partido
invocavam “catástrofes naturais”. Diziam que tinha chovido demasiado, que as
inundações tinham causado desastres em todo o país. Em Usong (…) não era esse
verdadeiramente o caso. (…) De qualquer modo, como era praticamente impossível
viajar através do país, ninguém podia verificar se isso era verdade. As
autoridades diziam-nos também que os Estados Unidos e a
Coreia do Sul tinham a sua quota de responsabilidade nessas carências, visto
que eram eles que tinham desencadeado a Guerra da Coreia. Segundo as suas
autoridades, sem essa guerra, a Coreia teria sido reunificada e tudo isto nunca
teria acontecido. Portanto, era tudo culpa dos imperialistas americanos e dos
fantoches do Sul. Evidentemente, eu aceitava essa argumentação tal e qual, sem
me questionar. Só muitos anos depois, já na Coreia do Sul, é que soube, para
minha grande perturbação, que a Guerra da Coreia tinha sido desencadeada não pelos
“fantoches do Sul”, mas pelo próprio Kim Il-Sung.»
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