2ºCiclo
“- Ela está à
espera de alguém.
- É aborrecido esperar.
Agora são sempre os rapazes que desistem.
- Aqui, na cidade, há mais raparigas que
rapazes?
- De facto, há muitos
rapazes. O problema é que há muito poucos interessantes.
- Mas esta rapariga é mesmo bonitinha.
- A rapariga que dá o
primeiro passo é sempre infeliz.
- Será que ele vem?
- Como se pode saber?
Isto põe os nervos à prova.
- Felizmente já passámos essa idade. Já te
aconteceu ficares à espera de alguém?
- Era sempre ele quem esperava. E tu, já te
aconteceu deixar alguém à tua espera?”
Excerto de “Uma Cana de Pesca para o meu Avô”, de Gao Xingjian
3ºCiclo“Tudo começou com um trabalho de grupo que o Sebastião tinha de fazer para a escola. É preciso fazer notar, assim à partida, que o meu querido irmão mais velho não aprecia (para não dizer que detesta!) trabalhos de grupo. Gosta de pesquisar, escrever e apresentar sozinho. É, como explica o meu avô Jorge, um one man show, que é como quem diz: está convencido de que consegue fazer tudo sozinho. Tipo Júlio César: veni, vidi, vici. Não estudaram os romanos? Não importa, eu explico, o que o imperador romano queria dizer é que chegava, via e vencia. Claro que os romanos tinham muitos soldados, o exército chegou a reunir cento e cinquenta mil legionários altamente treinados e bem motivados para conquistar território. Só uma pequena aldeia é que escapou a este poderio romano, vocês já devem conhecer estar parte: refiro-me, claro, ao Asterix e ao Obélix. O meu irmão é mais Ideafix – como o cão! – quando mete uma na cabeça é casmurro e vence a malta por cansaço.”
Excerto de “Mistério na Primeira República, O Diário do Micas”, de Patrícia Reis
Secundário
«Adão. Segunda-feira. Este novo ser de
cabelo longo é um valente empecilho. Anda sempre à minha volta e segue-me para
todo o lado. Não gosto disto; não estou habituado a ter companhia. (…)
Terça-feira. O novo ser dá nome a tudo o que aparece antes de eu poder esboçar
um protesto. E o pretexto é sempre o mesmo: parece
ser aquilo. Por exemplo um dodo, diz que, logo que se avista um, percebe-se que
“parece um dodo”. Vai ter de passar a
chamar-se assim, sem dúvida. Desgasta-me tentar discutir sobre isso e nem vale
a pena, de qualquer maneira. Dodo! Parece-se tanto com um dodo como eu!
Eva.
Quarta-feira. Quando apareceu o dodo ele pensava que era um gato selvagem –
vi-o nos seus olhos. Mas eu salvei-o. “Ora, se não é um dodo!” e expliquei como
quem não está a explicar, como é que eu sabia que era um dodo e ainda que eu
ache que ele ficou um bocado melindrado por eu saber que bicho era aquele e ele
não, foi bastante claro que ele me admira.»
Excerto de “Excertos dos diários de Adão e Eva”, de Mark Twain
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