Nesta sexta-feira, 14 de março, os alunos do 10.º ano foram assistir ao
ciclo de conferências “O que de verdade importa”, no Campo Pequeno, organizada
pela fundação homónima, de origem americana, que desenvolve projetos
principalmente em Espanha. Esta ideia surgiu quando, quase por acaso, descobri
que Jaume Sanllorente (autor de um livro que me marcou profundamente) viria a
Lisboa para uma palestra. No dia seguinte, desafiei os meus colegas e alguns
professores, e estes aderiram de imediato e com entusiasmo.
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Neste evento, os testemunhos de pessoas com histórias de vida inspiradoras
foram contados na primeira pessoa. Foi a primeira vez que esta fundação
realizou algo em Portugal e conseguiu encher metade do Campo Pequeno, com uma
assistência de cerca de duas mil pessoas.
O primeiro orador foi Bento Amaral, tetraplégico devido a uma infeliz
“carreirinha”. Foi campeão do mundo de vela de paralíticos e ficou em oitavo
lugar, representando Portugal nos Paraolímpicos. Atualmente, é enólogo e tem
uma mensagem muito curiosa: apesar de as palavras FELICIDADE e FACILIDADE serem
semelhantes em português, a felicidade não se encontra no caminho mais fácil.
Para ser feliz, ou, por outras palavras, para ser um
venceDOR/ganhaDOR/conquistaDOR, é necessário superar alguma dor, sempre com o
amor e a ajuda dos outros.
O segundo orador, Jaume Sanllorente, começou a sua partilha, dizendo que
nos ia ensinar a pintar uma parede do tamanho de dois campos de futebol com um
frasco de tinta com a dimensão de um copo de iogurte! Este espanhol era uma
pessoa com uma vida normal, mas, numa viagem à Índia, apercebeu-se da realidade
das crianças exploradas sexualmente; abdicou de tudo o que tinha (trabalho,
casa, família, conforto) e mudou-se para Bombaim. Fundou a ONG “Sorrisos de
Bombaim”, com o objetivo de dar uma nova vida a estas crianças. Concluiu
dizendo que, se cada um de nós puser um pouco de tinta do nosso potinho,
conseguiremos pintar juntos uma parede inteira, mesmo que esta seja gigante.
Após uma pausa para almoço, ouvimos o grande (quer em estatura, quer em
espírito) João Semedo Tavares. Depois de uma vida muito atribulada (tendo
estado preso dez anos por pequenos crimes e viciado em droga), Johnson (como é
conhecido) decidiu partilhar a sua história e ajudar os outros. O que mais
admiro nele é a gratidão e o amor que sente pelos outros; mas também a força
que teve para sair desta espiral negativa para divulgar a sua mensagem, tanto
nas prisões, como no dia a dia, no seu projeto, retirando miúdos da rua,
através do desporto.
Por último, tivemos o privilégio de escutar uma sobrevivente do tsunami
ocorrido na Tailândia, María Belón. A sua história inspirou a ação do filme “O
Impossível”. Conseguiu tocar-nos com a sua mensagem simples e profundamente
inspiradora: ao sobreviver a esta catástrofe, percebeu que ser feliz é fácil;
só é necessário vida e amor, e é isto o que de verdade importa.
Ao longo destes testemunhos, o meu coração parecia que se queria soltar e,
à medida que decorria o ciclo de conferências, muitos foram os "murros no
estômago". Senti-me de certo modo desconfortável e inquietado, porque,
muitas vezes, não damos o merecido valor ao que a nossa vida nos reservou. Logo
à saída do recinto, notei uma diferença significativa na maneira de agir dos
meus colegas; vários vieram ter comigo dizendo que estavam gratos por esta
experiência e que tinham adorado. Creio que este momento mudou a nossa forma de
encarar a vida e a maneira como valorizamos o que temos e o que somos; quando
julgarmos alguém, vamos pensar duas vezes, pois, como nos ensinaram aqui, não
conhecemos o seu passado - só assim podemos claramente perceber mais facilmente
o que de verdade importa.
Concluindo, perante esta mensagem e estas histórias de vida tão nobres, tão
fortes, sentimo-nos impelidos a fazer algo, para que o mundo seja melhor, ou,
nas palavras de Pedro Arrupe, "para que o mundo [não] continue como se não
tivésse[mos] vivido".
Manuel Theotónio, 10.º ano
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