domingo, 23 de março de 2014

"O que de verdade importa"



O aluno Manuel Theotónio partilha a experiência de participação, juntamente com outros alunos do 10.ºano, no ciclo de conferências "O que de verdade importa", no Campo Pequeno. Um dos oradores, Jaume Sanllorente,  é o autor de um livro que o Manuel lera, e que lhe fora sugerido pela Rita Lancastre, coordenadora da Biblioteca. Há livros e experiências assim, que mudam a nossa vida!...





Nesta sexta-feira, 14 de março, os alunos do 10.º ano foram assistir ao ciclo de conferências “O que de verdade importa”, no Campo Pequeno, organizada pela fundação homónima, de origem americana, que desenvolve projetos principalmente em Espanha. Esta ideia surgiu quando, quase por acaso, descobri que Jaume Sanllorente (autor de um livro que me marcou profundamente) viria a Lisboa para uma palestra. No dia seguinte, desafiei os meus colegas e alguns professores, e estes aderiram de imediato e com entusiasmo.

Chegámos bem cedo ao Campo Pequeno; no interior do recinto, podia notar-se uma certa ansiedade e muita alegria... Por toda a cidade, estavam espalhados cartazes e anúncios, fora feita publicidade também na rádio, televisão e redes sociais, e, por isso, foram criadas altas expectativas. Estas, posso dizê-lo agora, não foram apenas atingidas; foram ultrapassadas.

Neste evento, os testemunhos de pessoas com histórias de vida inspiradoras foram contados na primeira pessoa. Foi a primeira vez que esta fundação realizou algo em Portugal e conseguiu encher metade do Campo Pequeno, com uma assistência de cerca de duas mil pessoas.

O primeiro orador foi Bento Amaral, tetraplégico devido a uma infeliz “carreirinha”. Foi campeão do mundo de vela de paralíticos e ficou em oitavo lugar, representando Portugal nos Paraolímpicos. Atualmente, é enólogo e tem uma mensagem muito curiosa: apesar de as palavras FELICIDADE e FACILIDADE serem semelhantes em português, a felicidade não se encontra no caminho mais fácil. Para ser feliz, ou, por outras palavras, para ser um venceDOR/ganhaDOR/conquistaDOR, é necessário superar alguma dor, sempre com o amor e a ajuda dos outros.

O segundo orador, Jaume Sanllorente, começou a sua partilha, dizendo que nos ia ensinar a pintar uma parede do tamanho de dois campos de futebol com um frasco de tinta com a dimensão de um copo de iogurte! Este espanhol era uma pessoa com uma vida normal, mas, numa viagem à Índia, apercebeu-se da realidade das crianças exploradas sexualmente; abdicou de tudo o que tinha (trabalho, casa, família, conforto) e mudou-se para Bombaim. Fundou a ONG “Sorrisos de Bombaim”, com o objetivo de dar uma nova vida a estas crianças. Concluiu dizendo que, se cada um de nós puser um pouco de tinta do nosso potinho, conseguiremos pintar juntos uma parede inteira, mesmo que esta seja gigante.

Após uma pausa para almoço, ouvimos o grande (quer em estatura, quer em espírito) João Semedo Tavares. Depois de uma vida muito atribulada (tendo estado preso dez anos por pequenos crimes e viciado em droga), Johnson (como é conhecido) decidiu partilhar a sua história e ajudar os outros. O que mais admiro nele é a gratidão e o amor que sente pelos outros; mas também a força que teve para sair desta espiral negativa para divulgar a sua mensagem, tanto nas prisões, como no dia a dia, no seu projeto, retirando miúdos da rua, através do desporto.

Por último, tivemos o privilégio de escutar uma sobrevivente do tsunami ocorrido na Tailândia, María Belón. A sua história inspirou a ação do filme “O Impossível”. Conseguiu tocar-nos com a sua mensagem simples e profundamente inspiradora: ao sobreviver a esta catástrofe, percebeu que ser feliz é fácil; só é necessário vida e amor, e é isto o que de verdade importa.

Ao longo destes testemunhos, o meu coração parecia que se queria soltar e, à medida que decorria o ciclo de conferências, muitos foram os "murros no estômago". Senti-me de certo modo desconfortável e inquietado, porque, muitas vezes, não damos o merecido valor ao que a nossa vida nos reservou. Logo à saída do recinto, notei uma diferença significativa na maneira de agir dos meus colegas; vários vieram ter comigo dizendo que estavam gratos por esta experiência e que tinham adorado. Creio que este momento mudou a nossa forma de encarar a vida e a maneira como valorizamos o que temos e o que somos; quando julgarmos alguém, vamos pensar duas vezes, pois, como nos ensinaram aqui, não conhecemos o seu passado - só assim podemos claramente perceber mais facilmente o que de verdade importa.

Concluindo, perante esta mensagem e estas histórias de vida tão nobres, tão fortes, sentimo-nos impelidos a fazer algo, para que o mundo seja melhor, ou, nas palavras de Pedro Arrupe, "para que o mundo [não] continue como se não tivésse[mos] vivido".

Manuel Theotónio, 10.º ano



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