quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Um texto da Sofia Monteiro, do 8.º B


QUINTA-FEIRA, 1 DE OUTUBRO DE 1942
Querida Kitty,

            Ontem apanhei um susto terrível. Às oito da noite tocou subitamente a campainha da porta. Só conseguia pensar que era alguém para nos vir buscar, sabes o que quero dizer. Mas acalmei-me quando toda a gente jurou que devia ser uma brincadeira ou o carteiro.

            De facto, a vida aqui não é fácil. Nada é totalmente seguro, e o mais pequeno ruído pode significar a maior tragédia para todos nós.
            É um eufemismo dizermos que estamos escondidos: nós estamos presos, apenas não o assumimos. Na realidade, seria bastante ingrata se desprezasse este espaço onde ficarei “escondida” quem sabe por quanto tempo. Estão todos a tentar torná-lo num lar, mas sem uma única atividade ao ar livre, um único olhar para o sol, não existe uma pessoa que consiga adotar uma perspectiva positiva perante um cenário tão macabro.
            Toda esta guerra faz-me perceber o quão irracional pode tornar-se o ser humano. É grotesca a forma como é tratado o próximo, e parece que todos perderam a consciência e os princípios básicos da vida em sociedade.
            Estou aqui há quase cinco meses. Não sei para que serve adiar o inevitável: será que a Mamã e o Papá têm de facto fé num final feliz? Será que algum dia sairei daqui? Terei a possibilidade de me adaptar? Será que estamos apenas a esperar que nos venham buscar, tendo o simples consolo de que “tentámos”?
            Eu não sei, mas as respostas virão, a bem ou a mal.
                                               
                                                                                                Tua, Anne


Texto escrito no âmbito do estudo da obra O Diário de Anne Frank.


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